Tempo de crise, tempo de…

Vivemos hoje sem dúvida alguma, um momento de crise. Quando iniciamos o ano de 2020, nenhum de nós imaginava viver o que estamos vivendo. Primeiro, fomos severamente atingidos por chuvas torrenciais que ocasionaram a maior enchente da história de nosso município, trazendo muito transtorno e destruição. Agora, mal começamos a reerguer e nos deparamos com a pandemia do Novo Corona Vírus que, não considerando fronteiras, vem assolando o mundo e já é uma realidade também em nossa cidade e região.

Com a pandemia, subitamente nos vimos inseridos num cenário perturbador, onde a vida vai se tornando cada vez mais um grande desafio e, o medo, a desconfiança e a incerteza vão tomando conta de muitos. Diante da dimensão que a crise vai assumindo, atingindo violentamente o ser humano em suas variadas necessidades, muitos são aqueles se entregam ao desespero.  

É neste momento que quero propor um desafio e uma reflexão: não desconsiderar o tempo de crise, mas, ao mesmo tempo, compreender que é tempo de outras coisas também. Vejamos:

Tempo de crise: tempo de reafirmar nossa fé! Algunsneste momento, talvez por falta de uma compreensão adequada da fé cristã, questionam a Deus, como se Ele estivesse ausente ou indiferente ao que vivemos. Outros não conseguem conjugar a própria existência do Criador com o cenário de crise. Ora, o cristão consciente sabe que nunca nos foi prometido uma vida isenta de aflições (João 16.33), ou que a fé seria um tipo de imunidade ao sofrimento. Os momentos de crise são justamente oportunidades para exercitar e provar nossa fé. É em meio a adversidade que demonstramos a nosso compromisso incondicional de fidelidade a Deus. Como o profeta Habacuque, que viveu num tempo de crise, devemos dizer: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente” (Hc 3.17-19).  

Tempo de crise: tempo de demonstração de amor ao próximo! Vivemos numa sociedade muitas vezes egoísta e individualista, onde procuramos atender às nossas necessidades sem levar em consideração que há outros em condições mais vulneráveis, sobretudo em tempos de crise. É hora de redescobrir o significado do termo “empatia” e manifestar em atos concretos o amor aos que estão ao nosso redor. É hora de imitar o exemplo de Cristo que “esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo…” (Fl 2.8). 

Tempo de crise: tempo de buscar a Deus! Verdade seja dita: não fossem as adversidades, muitos não se voltariam para Deus. São nos momentos de aflição que acontecem grandes experiências com o Senhor. Isso porque em meio à crise, percebemos o quanto somos frágeis e impotentes. Damos conta de que recursos materiais, formação ou posição social não fazem diferença ante à força do inimigo. É quando precisamos reconhecer que somente “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem-presente nas tribulações” (Sl 46.1). Seja qual for a crise enfrentada, é necessário que se busque em Deus as forças as quais Ele sempre renova dentro de nós. Algumas pessoas se dizem incapazes ou fracos demais para resistir a tais momentos, mas a Bíblia deixa claro que o poder de Deus se manifesta até mesmo nas fraquezas (2 Coríntios 12:9)

Tempo de crise: tempo de aprendizagem! Uma antiga canção popular diz “eu nasci assim, eu cresci assim… vou ser sempre assim…”, ou seja, apesar das inúmeras experiências proporcionadas pela vida, “eu não mudo, eu não aprendo, eu sou sempre o/a mesmo/a”. Essa é uma triste escolha. Há muito a se aprender, amadurecer, aperfeiçoar, e geralmente os momentos de crise são grandes oportunidades para isso. Ao invés de passar por eles de forma indiferente, é prudente perguntar: “o que posso aprender com tudo isso?” “Em que devo mudar?” “O que Deus quer me ensinar?” 

Tempo de crise: tempo de esperança!A esperança é o oxigênio que nos mantém vivos. Quem perde a esperança, perde a capacidade de superar as angústias da vida. Não perca a esperança, não jogue a toalha, não entregue os pontos, não desista de crer. Volte-se para o Senhor e diga como o salmista: “Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa, porque dEle vem a minha esperança” Sl 62.5. Quero encorajar você a conhecer o Deus da Esperança. Ele pode inundar sua alma de paz na tribulação. Pode enxugar suas lágrimas na dor. Pode tomar você pelos braços e cruzar os caminhos mais hostis. Não desanime, espere em Deus. Não olhe para as circunstâncias, olhe para o Deus da esperança.

Enfim, sigamos em frente! Discernindo com sabedoria os desafios e oportunidades que esse tempo nos proporciona. Acima de tudo, crendo que não estamos sozinhos; temos uns aos outros e temos o Senhor Jesus que nos prometeu: “eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mt 28.20).

Rev. Márcio Abreu de Freitas

Pastor titular da Igreja Metodista Central em Carangola