PALAVRA DO PADRE: LEIA O TEXTO “UM PADRE, UM MENINO, O MILAGRE E O DEPOIS” – COM PADRE HIGOR LUIZ
29 de julho de 2024Um padre, um menino, o milagre e o depois
É bem conhecida a história da multiplicação dos pães e dos peixes narrada pelos quatro Evangelhos. O Evangelho de João (Jo 6,1-15), que refletimos neste domingo, por exemplo, relata-nos a provocação que Jesus faz a Filipe, diante de uma multidão que os segue: “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?” (v. 5); a estatística do Apóstolo: “Nem duzentas moedas bastariam para dar um pedaço de pão a cada um” (v. 7); e o comentário quase irônico de André, um dos Doze: “Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?” (v. 9). Jesus recebe essa oferta insignificante, ora, distribui, multiplica, sacia mais de 5 mil famílias e ainda sobra. Um milagre reconhecido por todos: “Este é verdadeiramente o Profeta” (v. 14)!
“Um dos Doze”. A ousada proposta de André tornou-se pontapé para a solução. Ousada, porque sua entrega era deveras insuficiente em relação ao tamanho do problema. Tanto é que parecem jocosos o seu comentário e o que a criança se predispunha a oferecer. Poderíamos até imaginar algum outro discípulo olhando para cima e dizendo um “aff!”. Ele, porém, um de um grupo, resolveu ousar conforme suas carentes possibilidades. Não se agarrou ao limite imposto pela realidade física e imediata. Fez sua pequena parte, o seu quase nada. Apresentou, com o menino, o pouco que estava ao seu alcance na pretensão de colaborar com Jesus. O resultado vocês já sabem.
A atitude de André ligada ao gesto do garoto lembra-me o serviço do sacerdote. Em um sentido, identificando as duas figuras: um padre é um menino; é um de um grupo que, consciente da pequenez do que dispõe e do assustador tamanho dos desafios da sociedade e da Igreja, entrega para Jesus seus dons para que o Senhor, por Sua Graça, faça o milagre acontecer. Em outro sentido, conectando os dois personagens: um padre, no espírito de liderança, promove a capacidade e direciona adequadamente o que cada leigo consegue ajudar, em prol do Reinado de Deus.
Nessa dinâmica do divino Reino, o pouco, com Deus, se torna muito e, pela Palavra anunciada aos corações e pelo Corpo e Sangue de Cristo dados em alimento, por meio de Sua Igreja, Deus continua a saciar seu povo, dando-lhes vida em abundância. O milagre acontece e até sobra. Há repercussões, há abundância. E agora? Os que seguiam Jesus foram saciados, e houve sobra. Eis, logo, o mandato de Jesus: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca!” (v. 12).
Fiquei imaginando o trabalho zeloso de alguns sacerdotes… não temos proporção do alcance. Podemos, também, nos recordar do serviço de outros missionários leigos ou consagrados. Não sabemos a “quantidade” nem a dimensão de um trabalho evangelizador, seja pessoal seja virtual. Se é oferecido a Jesus, com verdadeira caridade, humildade e ânsia de colaboração, só Deus pode medir o tamanho do milagre! E isso exige respeito. É precioso, é Verbo de Deus. Tal é o cuidado que devemos ter com as espécies eucarísticas, com os fragmentos dos dons consagrados, qual o zelo com as palavras guardadas e ainda em multiplicação em tantos corações, distribuídas pelos diversos servos de Jesus.
Depois do milagre, o espírito de comunhão, de respeito, de partilha, de fraternidade, de caridade, deve continuar. Num mundo com fome de unidade, importa o pequeno oferecimento, em seu início e no final. Importa o sim de cada um e o sim de todos (inclusive daqueles com os quais não simpatizo). Em atenção à Palavra do Cristo, cuidemos, também, para não desprezar as sobras do que o Senhor multiplicou com “o pão e o peixe” que o irmão a Deus ofertou.
PADRE HIGOR LUIZ