‘O GOVERNO DE MINAS NÃO ESPERAVA A FORÇA DESTA MANIFESTAÇÃO DA SEGURANÇA’
2 de março de 2022Foto: Flavio Tavares
Líderes do movimento mostram indignação com o governador Romeu Zema (Novo) por não abrir diálogo com as categorias desde o veto da proposta de recomposição. Gestor esperou o protesto para abrir negociação
Indignação. Esta palavra resume o sentimento das forças de segurança de Minas Gerais em relação ao governador Romeu Zema (Novo). Em entrevista no programa Patrulha da Cidade, da rádio Super 91,7 FM, representantes dos servidores explicaram o movimento para exigir o acordo que o chefe do Executivo fez com as categorias para fazer a recomposição salarial em três parcelas. Zema cumpriu só a primeira e vetou a correção das outras duas.
“Essa manifestação aconteceu porque as nossas famílias estão sofrendo com o que estão fazendo conosco, que é inclusive não nos conceder direitos. Direitos que estão na Constituição, que são as recomposições das perdas inflacionárias. Fico triste de ver que sou uma policial civil da base da polícia, e tem um governador milionário, empresário, gerindo o Estado como se fosse uma empresa”, disse a presidente da Associação dos Escrivães da Polícia Civil de Minas Gerais e diretora da Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis, Aline Rici.
Para o subtenente da Polícia Militar e presidente da Associação Nacional dos Praças (Anaspra), Héder Martins de Oliveira, justifica a ida de militares ao protesto como uma necessidade.
“A mesma Constituição que estabelece que ao militar é vedado a greve, estabelece no artigo 37, inciso 10º, que o governo do Estado é obrigado a fazer a recomposição salarial. Por que vamos pra rua? Por que não somos bandidos. Nós não temos atividade paralela que comprometa a nossa prestação de serviço. Como existe uma vedação legal de não fazer greve, os governos vão empurrando com a barriga. O que acontece se os professores fizerem greve? No máximo, perdem o dia não trabalhado. Se os militares fizerem? Código Penal Militar”, explica Oliveira.
Já o presidente da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra-PMBM), sargento Marco Antônio Bahia, avisa que a gestão de Romeu Zema peca, além de não cumprir o acordo, por não fazer investimentos na área de segurança. “Se dependesse de priorização de investimentos por parte do governador Zema, Minas estaria nas piores colocações em termos de segurança pública, isso porque houve redução no efetivo, no custeio e na assistência”, afirmou.
As más condições de trabalho também são lembradas pelo presidente da Associação Mineira dos Polícias Penais e Servidores Prisionais, Luiz Gelada. “Além de ter que conviver com péssimas condições de trabalho, e falta de regulamentação da carreira, agora somos obrigados a trabalhar com uma defasagem salarial de mais de 50%. O não cumprimento da palavra do senhor governador só aumenta o clima de tensão nas unidades prisionais”, afirma.
“O governo não esperava a força deste protesto. Todos os secretários e o governador pagaram pra ver. O governo Romeu Zema fez um compromisso conosco de conceder a recomposição das perdas inflacionárias em 2019, uma negociação de um ano. Enviou o projeto para a Assembleia, foi aprovado e ele vetou. Por que não dialogar? O povo tem que entender que a culpa do movimento ter atrapalhado o trânsito é o governador. Vamos continuar mobilizados. E, se o governo não ceder, talvez pioraremos.”
Aline Risi
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS ESCRIVÃES DA POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS E DIRETORA DA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE TRABALHADORES POLICIAIS CIVIS
“Se dependesse de priorização de investimentos por parte do governador Zema, Minas estaria nas piores colocações em termos de segurança pública, isso porque houve redução no efetivo, no custeio e na assistência. Temos a compreensão de que o governador subestimou os servidores da segurança pública de Minas, assumindo uma postura tirana. E essa postura pode lhe custar muito caro. Governador, entenda de uma vez por todas: aqui existem homens e mulheres com disposição e capacidade para lutar. A coragem que os fazem vencer os desafios da segurança pública também os capacita para
enfrentar a tirania do governo.”
Sargento Marco Antônio Bahia
PRESIDENTE DA ASPRA PM BM – ASSOCIAÇÃO DOS PRAÇAS POLICIAIS E BOMBEIROS MILITARES DE MINAS GERAIS
“O cenário é de total descontentamento na Polícia Penal, além de ter que conviver com péssimas condições de trabalho, e falta de regulamentação da carreira juntamente com a inércia do 1º Comando da Polícia Penal. Agora somos obrigados a trabalhar com uma defasagem salarial de mais de 50%. O não cumprimento da palavra do senhor governador quanto à recomposição salarial o clima de tensão só aumenta e agrava ainda mais nas unidades prisionais. Esperamos que bom senso recaía sobre o governador e essa situação seja logo resolvida.”
Luiz Gelada
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO MINEIRA DOS POLICIAIS PENAIS E SERVIDORES PRISIONAIS
“Como existe uma vedação legal de não fazer greve, os governos vão empurrando com a barriga. O que acontece se os professores fizerem greve? No máximo, perdem o dia não trabalhado. Se os militares fizerem? Código Penal Militar. Se exonerações surgirem por uma simples passeata, a situação vai ficar muito pior do que está agora, vai nos revoltar. Qual é o princípio do governo: amedrontar. o Zema vem nas redes sociais dizer que está dialogando conosco. Mentira! Se tivesse uma punição por mentira ele perderia o cargo. Não abriu uma janela de negociação. Tem tratado a segurança pública como se fôssemos marginais.”
Héder Martins de Oliveira
SUBTENENTE DA PMMG e PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PREAÇAS (ANASPIRA)
Pelo lado do governo Zema, o que se tem para a semana é uma reunião convocada para a próxima quinta-feira, 03, na qual as lideranças do movimento de reivindicação das polícias Civil, Penal e Militar, além dos Bombeiros Militares falarão com a secretária de Estado do Planejamento, Luísa Barreto. Deputados estão terminantemente cortados do encontro. Até a noite de ontem os presidentes das associações e sindicatos que representam os policiais não tinham colocado no papel suas posições, mas uma das condições essenciais para começar a conversa é que o governo do Estado retire da Assembleia a proposta do Regime de Recuperação Fiscal. Zema, em vídeo postado na sua rede social (o Governador não aparece para falar com os policiais, pessoalmente) disse que “prefere não se reeleger do que atender às reivindicações dos policiais, como estão formuladas”. Aline Risi, uma das lideranças do movimento, disse que o Governador foi injusto ao rotular os policiais como corruptos e baderneiros, entre outros defeitos, porque “dados revelam que Minas tem a melhor polícia do país”. E que “policiais não estão movidos por preferências eleitorais, embora seja justo querermos os melhores nomes para comandar nosso Estado, respeitando os seus servidores, e não os chamando de incompetentes e descartáveis”.
FONTE: O TEMPO