CIÊNCIA: DECODIFICANDO A LINGUAGEM DE DEUS

O homem, quem é ele? Qual é a origem, o destino e o sentido da existência humana? Essas perguntas, longe de ficarem restritas ao campo de investigação puramente religioso, fazem parte das principais buscas também científicas. O ser humano foi, é e sempre será um mistério. E aqui quero conceituar mistério como algo que não esgota nosso conhecimento sobre aquilo que é investigado. Tem-se sempre alguma coisa a ser descoberta.

Do ponto de vista religioso, o salmista diz que o ser humano foi feito pouco abaixo de Deus e foi coroado de glória e esplendor (Sl 8). Ressalta-se a grandeza do que é o ser humano aos olhos do Criador. E tem o privilégio de ser colocado no mundo como colaborador na obra da criação. Isso leva o homem a escavar, com as ferramentas do conhecimento, na busca de respostas, as suas mais profundas interrogações. Acredito que uma das mais importantes seja o mistério da vida.

Depois do grande projeto espacial Apollo, coordenado pela Nasa, de colocar o homem na Lua, o final do século passado e o início deste foi marcado por um outro de tamanha grandeza chamado Projeto Genoma. Com o objetivo de conhecer o código de hereditariedade da vida, foi mapeado o DNA de nossa espécie. A ciência nos revelou que a complexidade das informações contidas em cada célula do corpo humano nos faz nos curvar diante do mistério da vida. Como pode ser notado pela expressão do então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, no dia em que a impressa divulgou os primeiros resultados do mapeamento da seqüência do Genoma Humano: “Hoje, estamos aprendendo a linguagem com a qual Deus criou a vida. Ficamos ainda mais admirados pela complexidade, pela beleza e pela maravilha da dádiva mais divina e mais sagrada de Deus”.

Essa frase nos indica a relação da ciência com a religião. Não existe um antagonismo entre o mundo científico e aquele espiritual. Existe, sim, uma linguagem diferente que expressa a mesma realidade. E o grande erro na busca do saber é querer usar a linguagem religiosa no campo da ciência e ou querer usar a linguagem científica no campo religioso. Usando sua própria linguagem, a ciência nos ajuda a descobrir a linguagem de Deus. O saudoso Papa João Paulo II, em sua Encíclica Fides et Ratio afirma que: “A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade”.

No que tange ao auxílio da ciência para a autoconsciência, afirmava ainda São João Paulo II: “Quanto mais o homem conhece a realidade e o mundo, tanto mais se conhece a si mesmo na sua unicidade, ao mesmo tempo que nele se torna cada vez mais premente a questão do sentido das coisas e de sua própria existência. O que chega a ser o objeto do nosso conhecimento torna-se por isso mesmo parte de nossa vida”.

Acredito que a grande descoberta que podemos e precisamos fazer é a utilização equilibrada destas duas asas que conduzem o homem ao conhecimento, ou seja, a “asa” da religião e a “asa” da ciência. A verdadeira inteligência humana não prioriza uma em detrimento da outra. Descobre a complementaridade de ambas. Agindo assim podemos alcançar a compreensão tanto daquilo que vemos como do que não vemos.

Pe. Jamir Pedro Sobrinho

Pároco da Paróquia de Santa Luzia.

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