CUIDADO COM O CRONOS

Segundo a mitologia grega, o Cronos, engolia os filhos logo que esses nasciam por medo de ser destronado por uma profecia materna. Ele engoliu cinco filhos que teve com a Rainha Réia. Por fim nasceu Zeus que foi salvo pela mãe. A rainha conseguiu enganar o marido dando-lhe uma pedra envolvida num pano a qual engoliu pensando que fosse o filho recém nascido.

O Κρόνος para não ser devorado, destroça os seus filhos sem piedade. Não perdoa ninguém. Mesmo os que, por razões diversas são companheiros do ócio, não deixam de temer o famigerado Cronos.

A luta pela sobrevivência, fugindo deste monstro ameaçador, torna as pessoas cada vez mais perambulantes reclamando o tempo todo pela falta de Tempo. A conseqüência mais comum desta corrida se chama stress. As pessoas não têm tempo nem para si mesmas. Nosso tempo é cronometrado. Vivemos reclamando da falta de tempo. E sabemos que tempo é questão de preferência. Encontraremos tempo para aquilo que acharmos mais importante em nossas vidas. Pois, segundo a sabedoria bíblica, “onde estiver o nosso tesouro, aí estará o nosso coração”.

O livro do Eclesiastes diz que há um tempo para tudo. A grande sabedoria consiste em “enganar” o Cronos.  Envolver a pedra sólida do essencial da vida no pano da “esperteza”. Agindo assim, as pessoas conseguirão salvar “aquilo” ou “aquele” que tornar-se-á um deus (Zeus) de suas existências. Só assim o reinado do filho do tempo poderá trazer tranquilidade à Terra.

Uma vez que nossa existência é, de certa forma, condicionada pelo Cronos aprendamos a viver e conviver segundo o καιρός. Esse segundo conceito grego, Kairós, segundo a teologia, é o tempo opurtuno, o tempo de Deus. Tempo da Graça. Enquanto o primeiro é cronológico, linear, sequencial, o segundo é indeterminado no tempo em que algo especial acontece: a experiência do momento oportuno. O primeiro é humano e o segundo é divino.

Viver o Kairós de Deus é a única forma de vencer a fúria do Kronos. Não existe frustração maior do que viver perdendo tempo ou gastar o tempo com algo inútil em nossa vida. Como podemos deixar-nos tocar pelo Kairós?

Pe. Jamir Pedro Sobrinho

Pároco da Paróquia de Santa Luzia de Carangola